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2 Coelhos

2 Coelhos - 2012. Dirigido por Afonso Poyart. Escrito por Afonso Poyart e Izaías Almada . Direção de Fotografia de Carlos André Zalasik. Trilha Sonora Original de André Abujamra e Marcio Nigro. Produzido por Angela Farinello e Afonso Poyart. Black Maria / Brasil.


Não se engane com as firulas e experimentalismos técnicos de 2 Coelhos (2012), pois esta suntuosa embalagem serve apenas para esconder um produto medíocre e de qualidade duvidosa. Este, que é o primeiro longa-metragem dirigido por Afonso Poyart, aposta numa multifacetada estilização gráfica para parecer diferente, contudo ele acaba se perdendo no abuso de fórmulas já saturadas e em uma trama repleta de personagens rasos e estereotipados. A falta de maturidade artística é na minha opinião o maior dos problemas do filme, o que se nota é que a equipe envolvida em sua produção teve à sua disposição um aparato técnico de primeira, no entanto eles não souberam usá-lo, o uso contínuo de inúmeros efeitos não segue qualquer lógica ou padrão e não condiz com o convencionalismo da trama e da construção dos personagens.

O filme, que segue um roteiro não linear, começa com a narração do personagem central, que se apresenta e comenta o contexto no qual a história se desenvolverá... Peço licença neste momento para fazer uma pausa no raciocínio para uma pequena observação; a introdução deste parágrafo poderia ser usada também para descrever Cidade de Deus (2002), Tropa de Elite (2007) e diversos outros filmes nacionais lançados na última década... Voltamos então ao filme de Poyart; nesta sequência inicial, 2 Coelhos explora alguns tipos de efeitos visuais que serão abandonados logo em seguida, eles serão substituídos por outros, que por suas vezes também serão abandonados... Sim, em poucos minutos de duração já é possível observar três problemas que prejudicam o resultado final do longa: a falta de originalidade formal, a ancoragem na narração e a carência de identidade visual.


O personagem central de 2 Coelhos é Edgar (Fernando Alves Pinto), um rapaz um tanto estranho, que acabara de voltar de uma estadia de dois anos no exterior, ele diz ter um grande plano, que usará para matar "2 coelhos com uma caixa d'água só". Este plano envolve um grande roubo e afeta direta ou indiretamente diversos outros personagens, dentre eles um ex-professor universitário (Caco Ciocler), um advogado (Neco Villa Lobos), uma assistente da promotoria (Alessandra Negrini), um bandido 'pequeno' (Thaíde), um bandidos dos 'grandes' (Marat Descartes) e um deputado corrupto (Roberto Marchese). Estes personagens são imersos em uma trama cheia de reviravoltas e surpresas, cujo desenvolvimento rápido dá pouco tempo para nós espectadores pensarmos e sendo assim podemos facilmente deixar passar despercebidos os enormes buracos que há nela. Um público passivo é tudo o que o filme precisa para se passar por inovador...


2 Coelhos pousa de original e ousado, quando na verdade ele não passa de um mosaico montado com peças soltas ou mal encaixadas, que faz pouco ou nenhum sentido quando observado com o devido distanciamento. O vai-e-vem de sua narrativa nos remete à diversas outras obras que também possuem roteiro não linear, no entanto nele o recurso se torna enfadonho pelo excesso de didatismo, proporcionado principalmente pela narração em off, que é outro de seus grandes tropeços. Edgar narra a trama com uma espécie de visão privilegiada que estaria mais condizente com alguns dos filmes espíritas que fizeram sucesso de público há alguns anos, do que com um filme de ação, ele sabe de tudo, vê tudo e conhece cada um dos personagens e suas respectivas motivações, porém este conhecimento não reflete de nenhuma forma no personagem em si e em nenhum momento o filme revela o porquê dele saber de tudo que acontece com todos.


As várias reviravoltas na história só não nos causa tanto estranhamento durante a exibição do filme porque os personagens são superficiais demais para sentirmos desconforto com suas constantes mudanças de orientação e motivação. Não há sequer como analisar o comportamento do personagem central porque não há nele um mínimo de profundidade, não é possível identificar nele e em nenhum dos outros qualquer tipo de sentimento que esteja de fato condizente com o direcionamento de suas ações...

Tire do filme os seus abusivos efeitos especiais e não sobra praticamente nada além de uma historinha absurda e mal contada, digna dos piores filmes do gênero. Já a abordagem que o filme dá à sua temática passa longe de funcionar como uma crítica social, apesar de pender para isso em diversos momentos, evidenciando um outro vício já característico de nosso cinema.


Eu diria que 2 Coelhos é uma mistura de diversas fórmulas já desgastadas do cinema mainstrean brasileiro com a composição superficial e caricata dos personagens, típica do Quentin Tarantino, e a fissura técnica típica de cineastas como Zack Snyder e Guy Ritchie, porém sem aquilo de melhor que cada um destes cineastas citados já nos ofereceram. O filme acaba sendo interessante pela excelente trilha sonora e pelo bom desempenho de parte do elenco, que segura as pontas mesmo numa totalidade por vezes sofrível e  não tem como negar a excelência do aparato técnico do longa, a fotografia dele é bem trabalhada e ele é inquestionavelmente muito bem filmado, porém toda esta qualidade se torna um glamour desnecessário por estar incondizente com a mediocridade da trama e com a proposta do filme.


O ritmo rápido que o filme tem, associado aos seus exageros técnicos, ao menos não permite que ele se torne cansativo. Quando menos esperamos, ele já está acabando e é só então que acordamos e aí nos sentimos tal como um infeliz que acaba de dar conta de que foi roubado, o filme não leva nada de nós, no entanto sentimos que algo está faltando. E isto que nos falta é tão somente aquilo que esperávamos que o filme nos desse, mas ele não nos dá absolutamente nada além de estímulos visuais... Afonso Poyart tentou fazer um filme autoral e isso ficou evidente nas entrevistas que concedeu, no entanto 2 Coelhos passa longe disso, eu ainda espero que o diretor possa realmente desenvolver uma marca pessoal (que não a seja a pretensão excessiva) e nos surpreender de fato com seus trabalhos futuros, afinal amadurecimento geralmente vem com o tempo...Assista, mas sem pressa e sem grandes expectativas! 


Assistam ao trailer de2 Coelhos no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra. 

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